Ser interdisciplinaridade é cool, pero no mucho
Edição #13: não sei se este é um texto sobre diferentes perfis acadêmicos ou se é um desabafo sobre ser interdisciplinar.
Quando descobri a palavra “interdisciplinar” e, consequentemente, seu significado, compreendi que havia um lugar no mundo onde eu poderia me aninhar.
Era 2014, eu estava no doutorado e, por intermédio de meu orientador, conheci o IEAT da UFMG. O ieat é um centro de pesquisa transdisciplinar, onde todos os temas pesquisados são estudados por áreas do conhecimento diferentes. Só para ilustrar, em um tema como mudanças climáticas, por exemplo, cada pesquisador de uma área diferente traria sua contribuição. Assim, o tema mudanças climáticas seria analisado por saberes da climatologia, política, economia, artes, antropologia, etc. Sempre achei lindo um fenômeno ser visto de várias perspectivas diferentes, como um prisma, em toda a sua complexidade. E assim são as pesquisas transdisciplinares! E a beleza desses estudos se dá também por pessoas que se dedicam a serem também múltiplas, interdisciplinares.
Ser interdisciplinar, segundo o chat GPT significa:
integrar conhecimentos, métodos e perspectivas de diferentes disciplinas (ou áreas do saber) para entender ou resolver um problema, desenvolver uma pesquisa ou criar algo novo.
Ser interdisciplinar é, portanto, cruzar fronteiras do conhecimento, o que pode gerar soluções mais criativas, completas e conectadas com a complexidade do mundo real.
Eu achava, e continuo achando, isso encantador. Pessoas com um poder de conexão variada, de áreas diversas, e que, por sua vez, trazem soluções criativas e complexas como são os fenômenos humanos!
Ser interdisciplinar é legal! É muito legal interagir com seus pares, também interdisciplinares, em ambientes interdisciplinares que buscam estudos e propostas interdisciplinares. Outra qualidade, ao meu ver, é o espírito curioso de estarem sempre em busca de lugares que ainda não conhecem, buscando apreender algo que ainda não sabem, conversando e ouvindo pessoas de áreas que ainda não estabeleceram relações, exercendo sua natureza curiosa. E assim, os interdisciplinares não se demoram em lugares confortáveis. Os interdisciplinares estão sempre buscando novos lugares.
O ser interdisciplinar é assim devido à sua curiosidade e desprendimento para aprender novas disciplinas e para compor o seu prisma.
E é aí que se encontra o desconforto desejável, a busca constante de estar em lugares que não são familiares, que estão sempre em “desvantagem” de conhecimento, e que estão sempre tendo que se explicar (muitas vezes em vão) para as pessoas.
A busca por novos lugares é uma clara certeza de que o ser interdisciplinar não se encaixa em uma ou outra definição, em um ou outro lugar. Você entende que é um “sem lugar” e, para isso, é necessário “inventar” um lugar para si! Mas é cansativo e desafiador criar lugares e inventar ideias para se definir.
Em grande parte, os interdisciplinares não possuem carreiras lineares e verticais, pois se movem para diferentes direções e a verticalidade fica, muitas vezes, distante. Existem perfis acadêmicos que fazem movimentos mais previsíveis e, imagino eu, que talvez seja mais fácil se explicarem e que exista uma maior possibilidade de se encaixarem em lugares já existentes.
Penso aqui em um vídeo que assisti há um tempo no canal da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, no qual ela e Débora Diniz conversam sobre perfis acadêmicos e interdisciplinares. Sinto que fica mais fácil contar sua história quando há um caminho mais previsível e isso também é muito interessante. Conseguir contar uma história na qual o conhecimento vai se agregando e adensando é também fantástico.
Nas últimas semanas tenho buscado conversar com diferentes pessoas, de diferentes perfis, pois estou, mais uma vez, adentrando em novas áreas de conhecimento e me expandindo para outras direções. Durante essas conversas venho percebendo a satisfação, misturada com ânsia de movimento, que os interdisciplinares possuem. A melhor descrição que consegui alcançar para meu sentimento interdisciplinar, hoje, é “desconforto desejável”. E assim me encaminho para o final, concluindo que, sim, esse é um texto de desabafo sobre ser interdisciplinar.
Um abraço e até a próxima news.
Notas de rodapé
“eu não sei nem quem eu sou!” uma conversa entre Rosana e Débora
James Bridle, Why I write?